quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Como usar o computador na escola

Como usar o computador na escola
Quando se conversa a respeito de como usar o computador na escola, costumam sugir estas perguntas:
1) Quem deve usar a sala de informática: todos os professores ou um professor de informática?
2) É importante ensinar informática? Por quê?
3) A informática é importante para jovens e crianças?
4) Como você vê os programas feitos para ensinar?
5) De que outra maneira se poderia usar o computador?
6) O que é melhor, software geral ou específico?
7) Linguagem de programação é o mesmo que software geral?

O texto foi escrito na forma de diálogo, com perguntas e respostas,para que você possa refletir. Bom proveito!

Quem usa: todos os professores ou um terceiro?
Quando uma escola resolve usar computadores, deve ser decidido se os professores das disciplinas tradicionais usarão o computador em suas aulas ou se alguém será designado especialmente para cuidar das "aulas de informática". Para que o professor use a sala de informática em sua disciplina, ele precisa estar preparado. Precisa saber usar o computador para si próprio em primeiro lugar. Além disso, precisa analisar se aquele instrumental poderia ser usado em sua disciplina de modo a melhorar o aprendizado e o desenvolvimento de seus alunos. O que foi dito aqui em duas simples frases exige um esforço que às vezes dura anos e em alguns casos parece impossível. Se a direção da escola escolher uma pessoa especialmente para dar as "aulas de informática", tudo parece se resolver mais facilmente. Pode ser contratado um profissional que já tenha o preparo adequado ou pode-se escolher entre os professores da casa um que se adapte melhor ao computador e que faça novos cursos e estudos de maneira a estar preparado. Existe ainda a possibilidade de ser contratada uma empresa especializada em informática escolar, que fará um plano e designará um funcionário para trabalhar na escola. Essas soluções trazem melhores resultados a curto prazo do que a idéia de preparar todos os professores. Por ser mais fácil, tem sido a solução mais adotada pelas escolas. O fato de a escola pagar a terceiros para ajudarem de alguma forma não é um impeditivo ao desenvolvimento do professor. Tudo depende muito do objetivo da escola e da consciência que professores, direção e terceiros têm desses objetivos. Para uma escola funcionar bem, ela precisa estar apoiada e centrada em seus professores. O professor precisa ser a pessoa mais importante da escola. Diretores, coordenadores e especialistas precisam estar sempre a serviço do professor. A escola deve mesmo trabalhar em função do aluno, que é acompanhado diretamente pelo professor. Todos trabalham visando o desenvolvimento do aluno, alguns têm contato direto com ele, mas é o professor quem está com ele mais de 90% do tempo e, por isso, tudo o que acontece com o aluno passa pelo professor. Assim, todas as iniciativas da escola visando a melhoria do aluno devem estar relacionadas diretamente ao professor. O uso de uma nova ferramenta, ou um novo uso de qualquer ferramenta já conhecida, deve ser feito pelo professor. Em muitos casos é difícil. A pessoa trabalha em três períodos, está esgotada ou descrente em novidades. É fraca, retrógrada, avessa à tecnologia. Não consegue aprender a mexer nem em DVD. Quanto pior o caso, maiores as razões para se começar pelo professor. Os resultados podem demorar, mas se o professor não melhorar pode-se fechar a escola. A escola é o professor, de sala, não o coordenador, o orientador ou outra função qualquer de apoio. Para aprender a usar o computador pode-se recorrer a amigos ou entrar em uma das boas escolas de informática. Só aprende de fato quem passa a usá-lo na realização de tarefas pessoalmente interessantes. Muitas vezes o professor gosta de usar o computador para escrever provas, preparar material para os alunos, avisos gerais e outras coisas afins.

É importante ensinar informática? Por quê?
Para responder a essa questão, devemos nos perguntar o que ainda será importante daqui a dez ou quinze anos. A sociedade está mudando. Muitos treinamentos que hoje parecem fundamentais podem não ter a menor utilidade daqui a alguns anos. Quando se tenta adivinhar o futuro, são feitas previsões desastrosas. Quando eu era jovem, todos diziam que em breve a humanidade estaria viajando pelo espaço. Atualmente é mais fácil perceber que não acontecerá tão cedo viagens interestelares comerciais. Algumas previsões podem ser feitas com segurança. Basta que olhemos o passado e a velocidade com que certas coisas vêm mudando. Qual o conhecimento que a humanidade transmite há mais de trezentos anos ou há mais de mil anos e que não vem sofrendo grandes modificações? A língua portuguesa, por exemplo, está passando por mudanças. Alguns aspectos da comunicação escrita e falada mudarão nos próximos anos, qualquer que seja nosso destino. A matemática, por sua vez, mudou menos ainda. Há conteúdos que existem há mais de 2 mil anos. Aprender a lidar com quantidades e a relacionar entes geométricos, assim como a maior parte do conteúdo matemático, provavelmente não irá mudar tão cedo. Por esses motivos, até o 5º ano é dada uma grande ênfase ao ensino dessas duas habilidades - matemática e português. Há outras coisas, como trabalhar em grupo, aprender a estudar, viver em sociedade, que também serão importantes daqui a quinze anos. E os conhecimentos a respeito de computadores, quanto tempo poderão durar? Quem nos garante que daqui a três anos ainda existirão CDs? Eu mesmo não deveria estar escrevendo esta palavra, porque se este texto for útil por um pouco mais de tempo, ele correrá o risco de ficar desatualizado. Os mais jovens talvez entendam o que é CD. Como aprender a usar programas de computador poderia mudar o futuro de uma criança? A sociedade já coloca um fardo pesado demais sobre as costas do indivíduo que deseja fazer parte dela. A felicidade e o equilíbrio emocional do ser humano têm ficado comprometidos porque ele precisa estudar. Precisa ir à escola e fazer todas as tarefas. Precisa aprender inglês desde pequeno. Precisa passar no vestibular. Precisa ser melhor do que os outros. Precisa conhecer tudo o que de mais importante a humanidade descobriu nos últimos 5 mil anos. Seria justo, nessa rotina massacrante em que a criança e o jovem já vivem, tirarmos uma parte do tempo para ensinar-lhes a usar um computador que nem sabemos por quantos anos será parecido? Nos últimos anos, muitos especialistas de informática passaram de chefes a desempregados, porque as máquinas mudaram mais rápido do que eles foram capazes de se adaptar. Ensinando especificamente informática a crianças, estaríamos desperdiçando seu tempo. A experiência mostra que qualquer pessoa inteligente e bem-formada aprende a usar o computador com relativa facilidade. Aproveitando horas vagas, em um ou dois anos o sujeito passa de completo ignorante a usuário experiente. Precisamos formar um indivíduo com a inteligência desenvolvida, com cultura, flexível, criativo, compreensivo e bondoso. A informática pode até fazer parte da vida dele, mas não pode ser nosso objetivo.

A informática é importante para jovens e crianças?
Quanto mais conhecimento se adquire, mais necessário será o uso da máquina como o computador para nos auxiliar. Passamos a lidar com grandes quantidades de palavras e números, e se não dispusermos de uma máquina para nos auxiliar, seremos mais lentos. Ser mais lento não impede nosso desenvolvimento. Porém, tendo a máquina e sabendo usá-la, poderemos fazer tarefas maiores e mais complicadas. Nosso desenvolvimento poderá ser potencializado.

Como você vê os programas feitos para ensinar?
Os softwares educativos, como são chamados, tentam substituir a interação pessoa versus pessoa pela interação pessoa versus máquina. Ou porque o professor não consegue dar atendimento individual, ou porque não se consegue ter professor em quantidade suficiente, ou porque é mais barato prover a sociedade com máquinas do que com professores, por qualquer um desses motivos a máquina é chamada para interagir diretamente com o indivíduo. Embora se fale muito que a máquina não veio para substituir o homem, na sala de aula ela chega bem perto. O professor nesse momento aproveita para observar seus alunos e suas dificuldades, o que poderá servir de subsídio para a preparação da próxima aula. Às vezes ele está tão esgotado e aproveita esse momento para refazer seu fôlego. Esses programas servem para alguns momentos. Servem para treinar as pessoas em certas habilidades ou para deixá-las informadas de certos conteúdos, mas a escola não pode se contentar só com isso. Ser professor é muito mais que isso.

De que maneira se poderia usar o computador?
Poderíamos classificar os programas de computador em dois grandes grupos - específicos e gerais. Específicos seriam todos os softwares educacionais, aqueles criados com objetivos bem determinados e feitos especialmente para a escola. Gerais seriam aqueles que colocariam o comando das ações nas mãos de quem estivesse usando o computador. No primeiro, é o software quem faz as propostas enquanto o usuário conduz os trabalhos. A pessoa vai "aprendendo", sendo guiada. No outro, a máquina não demonstra vontades. Ela passa a ser um servo que faz o que lhe mandam. É a pessoa quem deverá elaborar e conduzir os trabalhos. Muitos dos softwares gerais não foram criados para a escola, mas para o mercado profissional como um todo. São programas gerais o Word e outros editores de texto, o Excel e outras planilhas de cálculo, o Cabri, o LOGO e outras linguagens de programação, o Power-point e outros apresentadores, o Netscape e outros browsers. São os chamados aplicativos e as linguagens de programação. Os aplicativos poderiam ser comparados ao papel e à escrita. Eles são um meio através do qual conseguimos registrar símbolos que apóiam nosso pensamento. Ao apoiar nosso pensamento nesses símbolos, conseguimos nos comunicar e também fazer registros que servirão para nos analisar e ampliar nossas idéias. O sujeito apoiado na escrita, na fala, na nomenclatura e na simbologia técnica ou musical consegue executar tarefas muito mais complexas do que sem o uso desses símbolos. O computador melhora a capacidade de registrar esses símbolos, possibilita o uso de novas simbologias (sons, vídeo, animações, imagens, relacionamentos etc.), executa operações padronizadas e preestabelecidas, com rapidez e precisão, e, por tudo isso, amplia mais ainda nossa capacidade intelectual.

O que é melhor, software geral ou específico?
Cada um tem suas características e deve ser usado para fins diferentes. Quando se deseja treinar o indivíduo em habilidades especiais ou ajudá-lo a memorizar conteúdos particulares, nada melhor do que um software específico. A questão é que existem centenas desses softwares no mercado, e precisa-se conhecer todos para saber usar cada um a seu tempo. Deve-se considerar ainda que o software específico só é útil por um determinado tempo. Depois que a criança já assimilou aquele conteúdo, esse tipo de software perde a função. O espectro de ação desses programas não costuma ser muito amplo. Um software geral pode ter utilidade desde a pré-escola até o terceiro grau. É o caso dos editores de texto. Prestam tanto a crianças em fase de alfabetização quanto a estudantes de advocacia. É o caso do LOGO, que pode ser usado para desenhar um polígono irregular fechado qualquer na pré-escola ou para elaborar um trabalho que consiste de uma rede de informações em forma de texto, vídeo e som, que se interligariam de forma dinâmica através de botões que apareceriam na tela e permitiriam ao usuário "navegar" sobre elas. O software geral pode, por um lado, ser desinteressante mas, por outro, pode ter maior influência no desenvolvimento do indivíduo que o software específico. Tudo dependerá da proposta que o professor der a seus alunos. Como no caso do software geral quem está no comando é o indivíduo, a motivação deverá ser externa. É mais difícil usar softwares gerais, pois eles pressupõem a participação decisiva do professor. No entanto, quando usados adequadamente, são melhores porque o indivíduo é quem comanda em vez de ser comandado. Ele deixa espaço para que se desenvolva a criatividade. Não há limites. Os alunos podem surpreender positivamente até o bom professor, dando vazão a suas reais potencialidades. Trabalhar com software geral não implica deixar de lado o específico, pois este é a base dos programas gerais.

Linguagem de programação é o mesmo que software geral?
Não. Ela apresenta um componente diferente e marcante em que as ações a serem executadas são declaradas por escrito. O pensamento é declarado e diversas etapas dele devem ser antecipadas. Fazer programação implica fazer auto-análise do modo de pensar. Ajuda a sistematizar o pensamento e a desenvolver o raciocínio lógico-matemático. Embora a linguagem de programação seja um software geral, não pode ser encarada como um aplicativo. Ela é diferente de todo o resto

Espero ter tirado algumas dúvidas quanto ao uso da informática na escola, mas precisamente no processo educacional.

Em breve estaremos tratanto sobre os principais teóricos em educação e suas contribuições para o desenvolvimento da informática educativa.



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